segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Pintar com Cal (II)


Foto: Leomil - Moimenta da Beira
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Para que a tradição da pintura a cal se mantenha, aqui fica uma receita para
Produzir Cal Hidratada com Óleo (e eventualmente outros aditivos):
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«As proporções correctas de Cal, Aditivo (óleo) e Água são:
Para cada 25 Kg de Cal Viva:
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· 1,5 Kg de aditivo (óleo)
· 10 Litros de água (aprox. 2 regadores)
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Equipamento necessário:
· Luvas para protecção das mãos
· Mascara para protecção das vias respiratórias
· Óculos para protecção dos olhos
· Estância de madeira (tabuleiro de madeira com cerca de 12 cm de borda, em que as tábuas do fundo estão justapostas sem permitir fugas de líquido, montado sobre pernas a cerca de 90 cm de altura)
· Ancinho de dentes apertados e cabo de cerca de 1,60 m
· Regador de aprox. 5 litos de capacidade
· Cal Viva de boa qualidade (em pedra, não em pó)
· Aditivo (sebo de carneiro, óleo de linhaça, borra de azeite ...)
· Água doce e potável isenta de salinidades
· Aditivo (corante, pigmento...)
Antes de iniciar qualquer procedimento, é indispensável proteger-se com o equipamento recomendado: a reacção química da Cal pode deixar marcas para toda a vida, causar queimaduras e dores intensas e, mesmo, cegueira. Sem ser um processo perigoso, pois desde que se conheçam os riscos, evitam-se acidentes com facilidade, recomenda-se que não se facilite no aspecto da segurança pessoal.
Não realizar o processo com crianças pequenas nas proximidades.
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Método de Produção:
1. Proteger-se com os equipamentos de protecção individual
2. Colocar a Cal partida em pedras de pequena dimensão na estância, de forma espalhada e uniforme, com o ancinho
3. Colocar o aditivo um pouco por toda a estância em pequenas quantidades
4. Com o ancinho, misturar homogeneamente a Cal com o aditivo
5. Com o regador, molhar lenta e cuidadosamente utilizando o primeiro regador cheio.
Atenção: neste momento, a Cal fará reacção, soltando muitos vapores e atingirá temperaturas elevadas, da ordem dos 300ºC, com pequenas explosões. Esta é a fase mais perigosa do processo. Proteja-se dos eventuais salpicos motivados pelas pequenas explosões e não inale os gases libertados.
6. Com a ajuda do ancinho, com precaução, vai-se misturando bem toda a Cal, para que a reacção seja homogénea e toda ela seja envolvida em água e aditivo. No caso de o aditivo ser sólido (sebo) com o calor libertado ele derrete-se e mistura-se no conjunto.
7. Esta etapa demora cerca de 20 minutos até que todo o fumo desapareça quase completamente.
8. O segundo regador de água deve ser despejado em duas ou três vezes, de forma lenta, para que desta forma se controle melhor a hidratação da Cal e a sua trasnformação em pó fino. Com o ancinho se garantirá que todos os “torrões” de cal sejam desfeitos. A água deve ser deitada sempre que o fumo diminua acentuadamente.
9. As pedras de Cal que se não desfaçam, significam que a Cal Viva não seria da melhor qualidade, e devem ser retiradas. Se a Cal for de excelente qualidade praticamente não restarão pedras por desfazer (pederneiras).
Do processo resta pó ou pasta que se deve crivar para outro recipiente através de uma malha metálica fina, para que nenhuma pedra ou impureza faça parte do resultado final.
Este pó ou pasta é de granulometria muito fina e de grande qualidade, tornando qualquerargamassa muito compacta e pouco porosa.
A Cal hidratada em pó que se vende no mercado já pronta, e que ao tacto se nota ser mais granulosa, não oferece esta qualidade porque quanto mais fino for o ligante, mais fina será a argamassa.
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Nota:
A Cal hidratada com óleo necessita de estar misturada com os inertes para se dissolver na água. Por isso, não se pode obter leite de cal e pasta de cal com esta Cal tal como se obtém com a Cal simplesmente hidratada comum, que é solúvel na água.
(…)

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Pigmentos Naturais para Argamassas de Cal:
Oxido de Ferro: amarelo, ocre, vermelho, castanho ou preto
Oxido de Crómio: Verde
Óxido de Cobalto: Azul
Outros produtos: Figos, Cascas de Uva, etc.
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Tintas de Cal:
Proceder de forma exacta quanto à hidratação de Cal normal, apenas juntando mais água, para que o leite de cal no final seja fluido e fácil de aplicar com pincel ou brocha de caiar.
Aditivar, ou não, os pigmentos para obter a cor desejada.
Notar que este tipo de tinta é de difícil afinação quanto à cor, contrariamente às tintas industriais, pelo que convém medir a superfície a pintar e produzir, de apenas uma vez a quantidade necessária, pois é preferível que sobre do que falte, pois faltando, o pedaço que se produza para colmatar a falta necessariamente será de matiz diverso, notando-se o remendo.
Curiosamente, o maior inimigo da Cal, é a pressa, e não o tempo.»
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Extraído de http://www.jlu.pt/downloads/NORMA_CAL.pdf

5 comentários:

Anónimo disse...

Já tinha encontrado este artigo na sua fonte de origem e gostei bastante do que aprendi. Já apliquei as técnicas e correu bastante bem. Só fiquei foi com uma dúvida que gostava que me esclarecesse (caso saiba): qual é a quantidade indicativa de pigmento que se deverá utilizar para os tais 25kg de cal? Isto porque eu não faço a minima ideia...

Rafael Carvalho disse...

Gostava de o poder ajudar, mas para ser muito honesto também eu não sei. Poder-se-á fazer a experiência...
Cumprimentos
Rafael

Ricardo Barros disse...

ola, excelente artigo,
será que me podia exclarecer se é possivel cair com a cal hidratada? ou seja aquela que ja vem desfeita.
onde posso arranjar o oleo para aditivar?
é necessario algum produto para a cal agarrar melhor à parede?
obrigado

Rafael Carvalho disse...

Ricardo,
neste post limitei-me a transcrever uma receita cuja fonte está devidamente assinalada.
Lamento mas não lhe consigo esclarecer a dúvida.
Cumprimentos e volte sempre.

Fernando disse...

O óleo ou aditivo pode ser, de acordo com a receita:
(sebo de carneiro, óleo de linhaça, borra de azeite ...)
A quantidade de pigmento é muito pequena e tem de ser experimentada e a cor deve ser produzida toda ao mesmo tempo dada a difícil afinação.