sábado, 25 de dezembro de 2010

A Beleza das Casas Adormecidas


Imagem obtida aqui.
+ Um pouco por todo o país existem casas que parecem dormir. Estão apenas à espera que alguém se apaixone por elas, as recupere e desperte para uma nova vida. São muitas as aldeias, do Minho ao Algarve, cheias de casas antigas, tantas vezes degradadas e abandonadas. De pedra, xisto, taipa ou adobe, estas são casas adormecidas, mas que a qualquer momento podem despertar. Uma vez recuperadas, podem ser reutilizadas e adaptadas à actualidade, dotadas de todas as comodidades e funcionalidades que exigem os dias de hoje. Esta é a principal mensagem do documentário “Casas Adormecidas – um passado com futuro”, realizado por José Cunha e Ana Pissarra, da produtora Go-To, e com texto da arquitecta Ana Tostões. “O documentário foi pensado como instrumento de sensibilização e inspiração, destinado a um público generalista, com o objectivo de mostrar que é possível reabilitar, recuperar e refazer casas velhas que parecem destruídas e irrecuperáveis”, explica Ana Tostões. O título Casas Adormecidas, explica-se, assim: ”São habitações abandonadas, perdidas, mas recuperáveis. Podem ser transformadas e aí estamos a criar um futuro com passado”. Para tal, basta que alguém acredite nas suas potencialidades e as reabilite. Ao longo de trinta e cinco minutos o documentário passa em revista belas imagens de aldeias e vilas nacionais. Mostra habitações abandonadas e exemplos de recuperação onde não faltam as funcionalidades da vida moderna. A ideia aqui contida é clara: é necessário preservar a arquitectura popular portuguesa. A fazê-lo, está-se a manter a identidade, individualidade e memória dos lugares. Recuperar significa transformar sem destruir. Além disso, a reabilitação do edificado é ainda uma atitude sustentável, uma vez que se reutilizam partes da casa e os materiais com que estas foram construídas, e sempre respondendo de forma eficaz às exigências térmicas e acústicas dos dias de hoje. “Queremos demonstrar que é possível recuperar a casa velha; muitas destas casas vêm com memórias dos tempos difíceis, mas ao dotá-las de todo o conforto contemporâneo podem ‘bater-se’ com a construção nova”, acrescenta a arquitecta. De construção simples, sem uma arquitectura de estilo, estas habitações foram edificadas ao longo dos tempos com os materiais dos locais onde se situam. A professora universitária acredita que a sua reabilitação representa a preservação de um património importante e mantém viva a história dos lugares e das regiões. O documentário “casas adormecidas” foi promovido pela Fundação Lapa do Lobo, com sede no concelho de Nelas. Vai ser distribuído por escolas, associações de defesa do património, autarquias, gabinetes de projecto e a todas as entidades que o solicitem. O objectivo é levar mais longe a mensagem de que é importante dar um futuro a estas casas com passado. Sensibilizar as pessoas para o facto de que é possível reabilitar e tornar funcionais as habitações rústicas, podendo ser mais económico do que a construção de raiz. Carlos Torres, administrador da Fundação Lapa do Lobo conta que “sempre fui muito sensível à reabilitação do património arquitectónico popular português, de linhas direitas, robusto, mas de bom gosto. Património que aqui na Beira Alta, e também um pouco por todo o país, está muitas vezes ao abandono. É por isso que a Fundação Lapa do Lobo tem nos seus estatutos a realização de acções de sensibilização no que diz respeito à recuperação do património”. Exemplo dessa preocupação é a própria sede deste organismo, instalada numa habitação construída em granito – a Fundação tem também recuperado outros espaços na aldeia de Lapa do Lobo. A promoção deste documentário tem como objectivo mostrar que é possível manter as aldeias vivas, belas e sem casas abandonadas. Para assinalar a primeira exibição do filme, a Fundação organizou, no final de Novembro, um colóquio sobre a “Reabilitação da arquitectura popular portuguesa” em que os oradores convidados foram unânimes quanto à necessidade de incentivar a recuperação do edificado popular. Francisco Keil do Amaral, arquitecto, louvou mesmo o documentário referindo ser esta a primeira vez que o problema da habitação é abordado com uma aproximação à vida real das pessoas. Para o geógrafo João Ferrão reconstruir e reabilitar é possível e vantajoso, em comparação com a construção nova. Em jeito de resumo, sublinhe-se que a ideia defendida não é a de promover museus ao ar livre em cada aldeia, mas antes devolver a vida ao interior do país e aproveitar a riqueza do património construído.
Texto: Maribela Freitas Extraído do suplemento Expresso “Espaços e Casas” nº 1991 / 23Dez2010.

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