terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Património Perdido II - Lazarim


Foto: Lazarim - Lamego
+
Sábado, 2 de Fevereiro de 2008.
A três dias do auge da Festa Carnavalesca, em Lazarim já se ouvem os chocalhos. Transportando varapaus e biforcados, envergando as diabólicas máscaras de madeira, vestidos a rigor com fatos garridos e esfarrapados os caretos surpreendem os turistas desprevenidos e as moças solteiras.
+
Passeando pelas ruelas desta bela povoação, longe da animação que basicamente é feita em torno da praça central, entre tabiques, ardósias, madeiras, chapas garridamente pintadas e varandas suspensas, admiro os belos exemplares da arquitectura tradicional alto-duriense nela contidos.
+
Paro para fotografar uma despretensiosa casa, revestida com negros soletos. Despertou-me a atenção pelo facto de apenas a fachada frontal do primeiro andar ser feita em tabique. Uma habitante segreda-me que o dito espécime em breve será demolido para dar lugar a uma garagem.
+
Questiono-me: Que sonhos terão sido nela vividos? Quantas crianças terão espreitado amedrontados pelos vidros das janelas os diabos carnavalescos que na rua passavam?
+
Lamentavelmente a semente renovadora das Aldeias Vinhateiras (Ucanha, Salzedas, Favaios, Barcos, Trevões) parece ainda não ter aqui chegado! Recuperando fachadas, coberturas e equipamentos públicos, o projecto Aldeias Vinhateiras devolveu a dignidade às povoações. Com o estabelecimento de uma Zona Especial de Protecção assegurou-se a salvaguarda do valor paisagístico e patrimonial, evitando a descaracterização na sequência das intervenções realizadas.
+
Sinto um arrepio. Lazarim é a pátria dos caretos. Sem o seu habitat - ruas e ruelas, tabiques, ardósias, madeiras, chapas garridamente pintadas e varandas suspensas, o futuro adivinha-se negro para os caretos, figuras mitológicas no Douro, minha terra.

Rafael Carvalho / Fev2008

2 comentários:

Paulo J. Mendes disse...

Fico sempre triste ao saber que um exemplar tão simples e belo se encontra sentenciado desta forma. Ainda bem que o fotografou.

Rafael Carvalho disse...

Efectivamente é triste a indiferença com que o nosso património vai sendo delapidado, trocando-se o ouro pelo pichebeque...
Mais um passo a caminho da uniformização!