Foto: Rio Bom, Lamego
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Sexta-feira, 8 de Fevereiro de 2008.
Em mais uma das minhas peregrinações às aldeias durienses, dirijo-me a Rio Bom, freguesia de Cambres, concelho de Lamego.
De paredes caiadas de branco com rodapé em tons de ocre, logo à entrada da povoação sou presenteado pela Casa da Azenha, belo exemplar setecentista da arquitectura erudita alto-duriense. Nela não falta o jardim de recreio com árvores exóticas, a vinha, o pomar, o olival e as hortas, nem mesmo a entrada alpendrada de acesso ao primeiro andar.
Máquina fotográfica em punho, avanço povoação adentro, por estreitas ruelas arquitectadas no tempo em que, na ausência do automóvel, o burro era rei. Reminiscências desses tempos, as argolas onde se prendiam os animais ainda se encontram cravadas nalgumas paredes.
No fim de um quelho sou abordado por um casal de idosos que dizem esperar pela minha chegada há já vários dias. Apontando para um poste, com um sorriso nos lábios, pergunta o velho ancião:
- O Senhor vem a mando da EDP, não vem? Finalmente alguém para substituir a lâmpada!
Respondo-lhe que efectivamente não é essa a minha arte. Confesso até que tive uma certa dificuldade em convence-lo do contrário. Como poderia alguém vir de fora, penetrar no fundo do quelho e não ser da EDP?
No desfecho, a desilusão.
Revelo por fim as minhas intenções. Estou na povoação simplesmente para fotografar as casas.
Surge então a desconfiança. O próprio cão até então adormecido junto aos pés do velho, acaba por rosnar. Que interesse poderão ter as velhas casas?
Acabo por seguir viagem.
Das poucas povoações ribeirinhas, Rio Bom é certamente no Douro Vinhateiro aquela que preserva o maior número de construções vernaculares.
Sobre o R/C em xisto que serve de adega e armazém, um ou vários sobrados em tabique. Em vincada saliência, assente sobre os barrotes do soalho, em Rio Bom algumas das varandas impressionam pela sua dimensão. O equilíbrio gravítico destas varandas é assegurado por escoras assentes obliquamente na parede do piso inferior.
As datações inscritas em algumas destas construções remetem-nos para meados do século XVIII.
Em pleno Alto Douro Vinhateiro, Património da Humanidade, localizada nas margens do homónimo ribeiro, Rio Bom tem tudo para ser perfeita: tabiques, ardósias, rebocos a cal, madeiras, chapas garridamente pintadas, varandas suspensas, pedra e muita pedra, mas também sobre a rua, “casas-passadiço”. Imaculadamente caiada de branco, tem ainda a Capela de S. Roque. Contudo, dado o mau estado de conservação de muitas das habitações é urgente a intervenção em Rio Bom, de forma a evitar perdas que tratando-se de património serão sempre irreversíveis.
Em mais uma das minhas peregrinações às aldeias durienses, dirijo-me a Rio Bom, freguesia de Cambres, concelho de Lamego.
De paredes caiadas de branco com rodapé em tons de ocre, logo à entrada da povoação sou presenteado pela Casa da Azenha, belo exemplar setecentista da arquitectura erudita alto-duriense. Nela não falta o jardim de recreio com árvores exóticas, a vinha, o pomar, o olival e as hortas, nem mesmo a entrada alpendrada de acesso ao primeiro andar.
Máquina fotográfica em punho, avanço povoação adentro, por estreitas ruelas arquitectadas no tempo em que, na ausência do automóvel, o burro era rei. Reminiscências desses tempos, as argolas onde se prendiam os animais ainda se encontram cravadas nalgumas paredes.
No fim de um quelho sou abordado por um casal de idosos que dizem esperar pela minha chegada há já vários dias. Apontando para um poste, com um sorriso nos lábios, pergunta o velho ancião:
- O Senhor vem a mando da EDP, não vem? Finalmente alguém para substituir a lâmpada!
Respondo-lhe que efectivamente não é essa a minha arte. Confesso até que tive uma certa dificuldade em convence-lo do contrário. Como poderia alguém vir de fora, penetrar no fundo do quelho e não ser da EDP?
No desfecho, a desilusão.
Revelo por fim as minhas intenções. Estou na povoação simplesmente para fotografar as casas.
Surge então a desconfiança. O próprio cão até então adormecido junto aos pés do velho, acaba por rosnar. Que interesse poderão ter as velhas casas?
Acabo por seguir viagem.
Das poucas povoações ribeirinhas, Rio Bom é certamente no Douro Vinhateiro aquela que preserva o maior número de construções vernaculares.
Sobre o R/C em xisto que serve de adega e armazém, um ou vários sobrados em tabique. Em vincada saliência, assente sobre os barrotes do soalho, em Rio Bom algumas das varandas impressionam pela sua dimensão. O equilíbrio gravítico destas varandas é assegurado por escoras assentes obliquamente na parede do piso inferior.
As datações inscritas em algumas destas construções remetem-nos para meados do século XVIII.
Em pleno Alto Douro Vinhateiro, Património da Humanidade, localizada nas margens do homónimo ribeiro, Rio Bom tem tudo para ser perfeita: tabiques, ardósias, rebocos a cal, madeiras, chapas garridamente pintadas, varandas suspensas, pedra e muita pedra, mas também sobre a rua, “casas-passadiço”. Imaculadamente caiada de branco, tem ainda a Capela de S. Roque. Contudo, dado o mau estado de conservação de muitas das habitações é urgente a intervenção em Rio Bom, de forma a evitar perdas que tratando-se de património serão sempre irreversíveis.
Rafael Carvalho / Fev2008
6 comentários:
Caro Rafael Carvalho,
Excelente artigo sobre a aldeia de Rio Bom. Seria muito interessante se a Câmara de Lamego desenvolvesse um projecto de recuperação desta aldeia (compreendendo também o lugar da Adega do Chão), pois é dos raros lugares durienses onde ainda é possível recuperar o que foi estragado e restaurar o que está abandonado. Este eixo Adega do Chão – Rio Bom para alem de estar situado num vale lindíssimo, possui Quintas, verdadeiramente notáveis, não só pela sua história, encanto e arquitectura, mas também pelo estado de conservação em que se apresentam. Falo naturalmente da Quinta e Paço do Monsul, da Quinta da Casa Amarela, da Quinta das Laranjeiras, da Quinta do Fojo, Quinta de Valemeirim e Casa da Azenha.
Porque não desenvolver uma associação cujo objecto seja a recuperação e promoção deste Vale Duriense? Fica a ideia e a vontade de fazer parte desse projecto.
Um Abraço
António Figueiredo Borges
Famalicão
PS- Parabens pelo blog
Caro António,
Efectivamente temos de ser nós portugueses a salvaguardar o que de mais genuíno possuimos. Parece-me interessante a ideia de desenvolver uma associação para a promoção e recuperação do Vale do Douro, até porque muito do património aí existente é invisível aos olhos de quem por ele todos os dias passa!...
Exmº Senhor Rafael Carvalho,
Não lhe posso esconder a minha admiração por, após uma pesquisa na net sobre a aldeia que me viu nascer, ver o seu blog e o seu artigo sobre esta aldeia que é "a minha aldeia..."
Fiquei muito contente por ver que alguem a encontrou no meio do nada, e que acima de tudo ficou preocupado com a sua degradação.
Era importante uma requalificação desta aldeia bem como de muitas outras de igual beleza, mas que se encontram no mesmo estado de degradação.
Louvo o grande apreço que as autarquias das aldeias históricas situadas na cova da beira, deram a requalificação das mesmas, e o mesmo louvaria se a autarquia de Lamego fize-se o mesmo por Rio Bom.
Não poderei concluir este meu comentário ao seu artigo, sem antes lhe dar os meus sinceros Parabens pelo seu fabuloso trabalho!
Despeço-me com elevada estima,
Lúcia Oliveira
Cara Lúcia Oliveira,
agradeço o seu comentário.
Volte Sempre!
Apesar deste artigo estar publicado a bastante tempo, quero dar os parabéns ao autor...uma vez que só hoje é que tomei conhecimento deste.
Efectivamente, esta aldeia trata-se de uma jóia situado no puro vale do Douro,Património da Humanidade. Esta tem como características primordiais a beleza das paisagens viniculas e a tranqualidade na qual os turistas encontram uma perfeita sintonia com a Natureza, tratada pela mão calejada dos trabalhadores rurais que de sol a sol cultivam as videiras, cujo fruto dá origem ao suberbo vinho do Porto.
Encorajo fortemente a requalificação desta pequena mas grandiosa (em beleza) aldeia...
Cumprimentos.
Sr. anónimo,
obrigado pelo comentário e pela simpatia das suas palavras.
Volte sempre.
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