Foto: Armamar
O texto seguinte escrevi-o aquando das festas do Corpo de Deus do no passado.
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Quinta-feira, 22 de Maio de 2008, dia de Corpo de Deus.
Quando saí de Armamar em direcção ao Douro já se iniciavam os preparativos para a procissão. Atrás de mim deixo a banda que de forma disciplinada percorre alegremente a principal rua de Armamar.
Tendo o vale do Douro como cenário, finalmente o carro pára. Alcanço o meu objectivo: um dos muitos matos mediterrânicos nascidos há décadas entre terrenos agrícolas abandonados.
A pé percorro trilhos, salto velhos muros, alguns dos quais autenticas muralhas que servindo de passadiço percorro, transpondo a densa vegetação.
Entre rolas bravas que esvoaçam, cucos e melros que cantam, dou por mim a pensar se não estarei a sonhar!
Não será aqui o Jardim do Éden?
No ar o odor do rosmaninho e da esteva, misturam-se. Entre silvas e madressilvas avanço vegetação adentro. Entro num fresco bosquete de cerejeiras bravas cujo fruto serve de repasto à passarada. Também eu o provo.
O cantar das aves adensa-se e aproveito para rebolar no chão atapetado pelas heras. Para além das cerejeiras também presencio castanheiros, pinheiros e medronheiros. Lá para o final do ano estes últimos estarão cobertos de rubros medronhos. Entre a copa das árvores avisto um bando de andorinhas que com as suas acrobacias por instantes me entretém o olhar.
Em Armamar rebenta um foguete, dá-se inicio à procissão. No bosquete a passarada levanta voo e chega a hora de eu reiniciar viagem.
Há saída do bosque sou cumprimentado por um saltitante coelho.
Vou andando e tomando nota daquilo que observo. Em escassas dezenas de metros contemplo zambujeiros, sumagres, urzes brancas, giestas amarelas, codeços, rosas caninas de diversas cores. Enxergo ainda carvalhos cerquinhos e abrunheiros bravos com os seus frutos suspensos. Mais à frente pilriteiros, carrascos, abróteas, sargaços, espargos bravos, papoilas, lentiscos-bastardos, troviscos e gilbardeiras com os seus frutos incandescentes dependurados.
Antes de novamente entrar no carro ainda paro para admirar um belo sobreiro cuja copa domina a paisagem.
Belisco-me para confirmar se não estarei a sonhar. Os acontecimentos sucedem-se. Uma cobra de ferradura refugia-se entre as pedras de um velho muro de xisto. Mais à frente, entre oliveiras e videiras corre uma apressada perdiz.
Parto e ainda chego a Armamar a tempo de ver a procissão.
Rafael Carvalho / Jun2009
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