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Construídos em madeira e de aspecto palafítico, os palheiros da Tocha foram-se erguendo sobre estacas, inicialmente de madeira, depois em pedra, bloco ou cimento, evitando assim a acumulação de areia transportada pelo vento. Constituindo residência temporária apenas durante os meses de faina (Abril a Outubro), os Palheiros da Tocha eram de pequena dimensão, ao contrário por exemplo dos palheiros de Mira que chegavam a ter três andares. Bastante rudimentares, serviam ainda de arrumos às alfaias piscatórias, bem como de armazéns de salga. A sua pequena dimensão permitia que, se necessário, acrescentando-se outros pilares facilmente se elevassem, podendo mesmo ser mudados de local. A leveza da madeira permitia que as construções se erguessem num solo arenoso, de pouca estabilidade.
A facilidade em obter madeira e o seu baixo custo como material de construção, relacionado com a proximidade da floresta, levou à sua generalização. Para o recurso à madeira como material construtivo existem também razões culturais, prolongamento de tradições anteriores: a pedra e o adobe, estáveis e sólidos para o lavrador; extensão do barco, a madeira para o pescador. Habituado a uma vida volante o pescador aceita sem estranhar uma construção muitas vezes improvisada.
De planta rectangular, eram cobertos por telhados de duas águas, primeiro de colmo ou em tabuado, depois de telha de barro cozido. Mais tardiamente alguns palheiros passaram a usar telhas de lusalite. Relativamente às telhas de barro, à telha caleira de fabrico artesanal sucederam a telha “marselha” e posteriormente a “lusa” de fabrico industrial.
Quanto ao método construtivo, duas hipóteses se afiguravam. O tabuado das paredes ora era aplicado na vertical, ora era aplicado na horizontal, sobreposto. No primeiro dos casos as juntas eram colmatadas por ripas, pintadas por vezes de cor diferente.
À esquerda - Tabuado aplicado na vertical, com as juntas colmatadas por ripas. À direita - Tabuado sobreposto aplicado na horizontal
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Os palheiros eram tradicionalmente pintados com óleo queimado, bastante eficiente enquanto protector da madeira. Vestidos de negro, os palheiros faziam companhia às gandaresas que tal como elas aguardavam pelo regresso dos pescadores, com receio que eles levassem sumiço no mar revolto.
“Vestidos de negro, os palheiros faziam companhia às gandarezas que tal como elas aguardavam pelo regresso dos pescadores com receio que levassem sumiço no mar revolto.”
Foto (anos 70 do séc. XX) extraída do livro “Praia da Tocha / Palheiros da Tocha” de Alice Andrade. Associação de Moradores da Praia da Tocha 2001
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A cor negra do óleo queimado sempre distinguiu os palheiros da Tocha dos seus congéneres de Mira ou da Costa Nova.
No palheiro, a habitação propriamente dita, soalhada, situava-se ao nível do primeiro andar, à qual se acedia por uma escada ou rampa exterior. A cozinha acumulava ainda as funções de sala comum, servindo ainda simultaneamente de entrada. Para a cozinha abriam-se as alcovas, quartos de pequena dimensão. Nas alcovas a tarimba, na cozinha o borralho, uma caixa de areia ou de barro encostada à parede, com telhas a proteger a madeira, onde se acendia o lume para cozinhar. A latrina, quando existente, situava-se normalmente entre a estacaria ao nível do R/C. Também entre a estacaria eram armazenados os apetrechos da faina piscatória.
O litoral na região gandareza era outrora bastante desprotegido, pelo que as dunas eram varridas por ventos vindos do mar, arrastando para o interior massas consideráveis de areia por vezes por diversos quilómetros. Este efeito foi contrariado à custa da plantação de pinheiros bravos e arbustos que fixaram as areias. Originalmente assentes sobre estacaria de madeira, os palheiros evoluíram. Em fases posteriores à consolidação das areias, surgiram modelos fechados ao nível do R/C. O R/C fechado passou a servir de arrumos ou mais recentemente de garagem.
Aos pescadores foram-se adicionando os veraneantes que, avessos à madeira, foram edificando as suas casas em alvenaria. Assim teve início a destruição de um modo de viver e construir, facilitado pelo fabrico local de blocos de cimento e areia e pela abertura de vias de comunicação que facilitou a entrada de outros materiais de construção, mais baratos do que a madeira. O próprio poder público contribuiu para a agonia dos Palheiros. A Sul, nalgumas povoações das proximidades do pinhal de Leiria, a construção de casas de madeira ou mesmo a reparação das existentes, foi em tempos proibida. O mesmo aconteceu a Norte na Praia de Mira.
Rafael Carvalho / Set2010
Consulte também:
Palheiros da Tocha (1 de 5);
Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação;
Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?;
Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes ;
Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha
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