sexta-feira, 2 de março de 2012

Lazarim, ainda…

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Tabiques, ardósias, rebocos a cal, madeiras, chapas garridamente pintadas, varandas suspensas, pedra e muita pedra ...
… palavras introdutórias ao meu blogue. Acrescento ruralidade, tradição, autenticidade.
Num mundo globalizado, obcecado pela niveladora padronização, tudo isto e muito mais ainda sobrevive em Lazarim, terra de caretos.
A arquitetura vernácula local, de habitação ou produção, é rica e diversificada nos materiais que usa, criando texturas únicas. A ruralidade está estampada nos espigueiros que por aqui ainda vão sobrevivendo. A água escorre pelos ribeiros e lameiros, criando uma atmosfera ímpar. A verdadeira explosão de tradição e autenticidade acontece no Carnaval – caretos a percorrerem os estreitos becos, testamentos, compadres e comadres entre caldos de farinha, feijoada e vinho.
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Apenas que nasci,
Ouvi minha mãe dizer:
Ó que triste sorte a minha,
Que pelém me foi nascer!
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Na semana dos compadres,
Ó que semana maldita!
Já não tinha que me dar
Deram-me tripas de pita.
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Vou começar no padrão
Escutai o que vos digo!
Há lá tanto solteirão
Que até parece castigo.
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O testamento é do padrão,
Vai ser um de verdade!
É o menino Manel,
Que é o mais velho da mocidade.
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A este menino,
Que lhe havemos de dizer.
Deixamos-lhe a dentadura do burro
Que a dele está a apodrecer.
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O defeito que tu tens,
São essas tuas cantigas.
Ligas mais aos rapazes
Que às raparigas.
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Excerto do Testamento da Comadre do ano de 1973

3 comentários:

Diogo Carvalho disse...

Está muito Giro.

Diogo Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Carvalho disse...

Obrigado, caro filho!