+
Encantou-me a visita que no verão passado fiz a Picote. Quando por lá andei, deliciei-me com a porta carral da imagem.
Já tinha visto referências a este tipo de portas da região mirandesa, uma das quais no livro “Arquitectura Popular em Portugal”, fruto do inquérito à arquitectura regional portuguesa elaborado em meados do século passado. É deste livro o excerto que ora apresento.
Encantou-me a visita que no verão passado fiz a Picote. Quando por lá andei, deliciei-me com a porta carral da imagem.
Já tinha visto referências a este tipo de portas da região mirandesa, uma das quais no livro “Arquitectura Popular em Portugal”, fruto do inquérito à arquitectura regional portuguesa elaborado em meados do século passado. É deste livro o excerto que ora apresento.
+
«Nada melhor para ilustrar tudo quanto se disse destas casas do que uma olhadela para as suas fachadas (…). Nada de um desabrochar para o exterior. As poucas aberturas incrustam-se nas sóbrias paredes, que se apresentam como caras fechadas aos sorrisos. Forçando ainda mais o ar de severidade, a porta carral que ultrapassa em escala qualquer elemento da composição, é mais um símbolo de um vão que se fecha, do que uma abertura para maior contacto com o exterior. Isso talvez provenha do facto de as suas duas folhas avultarem como empanadas de grossos tabuões, pregueados de grandes cravos de ferro e a que não falta mesmo a porta estreita e baixa que, inserida na folha mais larga, introduz uma referência directa ao verdadeiro tamanho das pessoas.
Vem a propósito encarar um outro aspecto da questão: o enquadramento dessas portas. Como elementos dominantes das fachadas, é evidente que para elas convergem as atenções do construtor, quando este envereda pelo caminho do apuramento formal. Que elas sejam fortemente acusadas por uma envolvente de pedras, que sobressaem do vulgar aparelho destas alvenarias, isso resultaria de uma simples necessidade de estruturar convenientemente semelhantes aberturas; no entanto, não podem passar despercebidos, ou um melhor acabamento das superfícies das pedras que as defendem, ou até a utilização de elementos de carácter muito especial, cujo rigor na utilização poderia levantar certas dúvidas. Contudo, não negando uma tendência que é perfeitamente lógica, é-se forçado a considerar, como aspectos dominantes destas portas carrais da região mirandesa, tão somente aqueles que promanam directamente das suas dimensões e da nobreza da textura dos materiais que as compõem.»
«Nada melhor para ilustrar tudo quanto se disse destas casas do que uma olhadela para as suas fachadas (…). Nada de um desabrochar para o exterior. As poucas aberturas incrustam-se nas sóbrias paredes, que se apresentam como caras fechadas aos sorrisos. Forçando ainda mais o ar de severidade, a porta carral que ultrapassa em escala qualquer elemento da composição, é mais um símbolo de um vão que se fecha, do que uma abertura para maior contacto com o exterior. Isso talvez provenha do facto de as suas duas folhas avultarem como empanadas de grossos tabuões, pregueados de grandes cravos de ferro e a que não falta mesmo a porta estreita e baixa que, inserida na folha mais larga, introduz uma referência directa ao verdadeiro tamanho das pessoas.
Vem a propósito encarar um outro aspecto da questão: o enquadramento dessas portas. Como elementos dominantes das fachadas, é evidente que para elas convergem as atenções do construtor, quando este envereda pelo caminho do apuramento formal. Que elas sejam fortemente acusadas por uma envolvente de pedras, que sobressaem do vulgar aparelho destas alvenarias, isso resultaria de uma simples necessidade de estruturar convenientemente semelhantes aberturas; no entanto, não podem passar despercebidos, ou um melhor acabamento das superfícies das pedras que as defendem, ou até a utilização de elementos de carácter muito especial, cujo rigor na utilização poderia levantar certas dúvidas. Contudo, não negando uma tendência que é perfeitamente lógica, é-se forçado a considerar, como aspectos dominantes destas portas carrais da região mirandesa, tão somente aqueles que promanam directamente das suas dimensões e da nobreza da textura dos materiais que as compõem.»
Rafael Carvalho / abr2012
2 comentários:
Muito interessante esta porta. Aqui, no sul, também existem algumas portas antigas, onde se abre uma segunda porta, mais pequena.
Acho muito curiosas as pedras que se destacam nas paredes de lado da porta, na parte superior. Terão apenas uma função estrutural?
Cumprimentos
Júlia,
essas ditas pedras servem para suportar um alpendre que esta porta em particular já não tem.
Cumprimentos.
Enviar um comentário