segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

No Douro atlântico - Midões


Midões - Castelo de Paiva

Domingo, 20 de Janeiro de 2008.
Ladeada por uma densa floresta de eucaliptos, onde ainda resistem alguns sobreiros, carvalhos e medronheiros, a descida para a aldeia de Midões, concelho de Castelo de Paiva, é feita por uma estreita e velha estrada de acesso ao rio Douro, via rápida da antiguidade.
Logo à entrada, junto da antiga venda, por entre laranjais, temos a percepção de estarmos a entrar num mundo novo.
Do casario erguido em xisto, destaca-se a Casa do Passadiço. Este belo exemplar arquitectónico marca a diferença pela elaborada cantaria de granito presente nos seus cunhais e vãos de portas e janelas. Uma das ruelas, trespassando o coração desta casa, põe à vista o soalho que lhe serve de tecto. Bonito casamento este entre a madeira e a pedra.
Os restantes edifícios tocam pela sua modéstia e simplicidade. Na falta de recursos financeiros, a madeira e um ou outro bloco de xisto mal aparelhado, mas nem por isso menos belo, ajudam a vencer os pequenos vãos aí presentes. Junto às portas e nos poiais das janelas, os vasos alegram as fachadas.
De máquina fotográfica a tiracolo, avanço pela aldeia. De uma chaminé solta-se uma coluna de fumo. A casa respira… Está viva!
Já no topo da povoação sou surpreendido por um cão, pouco habituado à presença de estranhos neste território que é seu. Cruzo-me com o seu dono. Radicado à muito na cidade do Porto, não passa as férias nem nenhum dos fins-de-semana longe da sua Aldeia Natal. Contou-me histórias do tempo em que em torno do rio, a aldeia então com as suas três vendas fervilhava de vida. O seu próprio pai, proprietário de um barco rabão, vivia do transporte de bens e pessoas. Outros, a par com a agricultura, viviam da pesca, época dourada da lampreia e do sável. As minas do Pejão, entretanto encerradas, alimentavam as restantes bocas. Tempo que já lá vai, quando o rio não domado pelas barragens ceifava furioso muitas vidas no Inverno, permitindo contudo que o atravessassem a vau no Verão.
Terminada a conversa regresso à estrada. Não sem antes parar para apreciar uma humilde e despretensiosa casa. Na sua fachada apenas uma porta ao nível do rés-do-chão, destacada pelas proporções da moldura de granito que a cerca. Alinhada com a porta, no primeiro andar, sobre um fundo caiado apenas uma janela. Ao lado uma hera.
Em franca harmonia com o meio circundante, atrás de mim deixo o casario de Midões, agradável surpresa esta numa fria manhã de Inverno, num Douro mais atlântico mas nem por isso menos belo.

Rafael Carvalho / Jan2008

4 comentários:

Julio Rodrigues disse...

Rafael, muito obrigado pela sua visita e também pela sua contribuição para a preservação do nosso património e da nossa rica arquitectura tradicional. Voltarei aqui regularmente.

Rafael Carvalho disse...

Qualquer que seja o cantinho do mundo, a Net tem o dom de unir pessoas com interesses comuns.
Até breve.

Anónimo disse...

Obrigado pela imagem e comentario. Sou o priviligiado que dorme naquela casa e tenho como companheiro o rio que tanto gosto, sempre que me é possível.

Rafael Carvalho disse...

Grande coincidência!
Parabéns pela bela aldeia e pela bela casa!
Obrigado pelo comentário.