Foto: Goujoim - Armamar
O pormenor da imagem pertence a uma casa localizada em Goujoim, concelho de Armamar.
Excentricidade? Talvez não!
A arquitectura vernácula do vale do Douro possuía muitos e bons exemplos como o exposto. Muitos dos que ainda resistem, tal como este, já não estão em bom estado de conservação.
A leveza da construção em tabique (uma das técnicas da arquitectura de terra), o prolongamento para o exterior dos barrotes do soalho, uma ou outra escora metálica e um pouco de imaginação permitiram ao duriense durante séculos desafiar a lei da gravidade.
Curioso no belo exemplar acima exposto é o recurso a telhas cerâmicas como material de revestimento do frágil tabique. Não sendo propriamente caso único, é efectivamente muito mais frequente para esse fim o recurso a soletos de ardósia ou mesmo à chapa de zincada.
Embora moribundo, aprecie-se a imagem. Em vias de extinção, este é um dos últimos exemplares da sua espécie.
Rafael Carvalho / Dez2008
4 comentários:
Será que ainda existe mestres nesta maravilhosa arte?
Ainda não perdi a esperança de ver um dia algum empreendedor olhar para a arquitectura de tabique como uma oportunidade de negócio na recuperação de casas e até mesmo na construção nova, em alternativa ao betão.
Espantosas estas casas. Suponho que era a estas estruturas que Orlando Ribeiro chamava andares de ressalto. Tão diferentes das casas do Sul! É de facto, uma outra concepção de casa e de utilização de diferentes materiais.
Cumprimentos
Paulo:
Parece que, infelizmente, o tabique é uma arte quase extinta. No Norte do país não tenho conhecimento de ninguém que ainda a aplique. Relativamente a outras formas de "Arquitectura de Terra", nomeadamente a "taipa" e o "adobe", existem no Sul arquitectos e construtores que com elas trabalham, tendo o negócio clientes.
Relativamente ao tabique, tenho conhecimento de uma empresa cediada em Palmela que o faz, pelo menos em paredes interiores (ver "http://www.paulojones.com/tecnicas/tabique.htm"). Em Arruda dos Vinhos, tenho conhecimento de uma casa construída em tabique pela empresa "Plano B Arquitectura" (ver "http://arquitecturadouro.blogspot.com/2008/02/tabique-aplicaes-contemporneas.html").
Cumprimentos.
Júlia:
É precisamente no nosso país a grande diversidade que torna interessante a arquitectura popular. As casas tradicionais da minha região não têm efectivamente nada a ver com as do Sul. Por serem ambas verdadeiras e espontâneas, une-as porém a beleza...
Sinto sinceramente que temos o dever de divulgar e incentivar a preservação deste património.
A denominação de andares de ressalto aplica-se precisamente neste tipo de situações. O termo também foi usado por Ernesto Veiga de Oliveira, etnólogo de renome.
Cumprimentos e boas postagens.
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