sábado, 23 de janeiro de 2010

Aveiro - palheiros do Sal do Canal de São Roque

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O mar e a Ria conferem à cidade de Aveiro um conjunto de especificidades que a tornam única no quadro urbano nacional. Uma das especificidades prende-se com a secular exploração de sal que esteve na origem do povoamento aveirense. Quais janelas espelhadas, mantenho permanentemente as salinas no meu imaginário. O sal produzido é armazenado em montes cónicos. Para evitar a exposição à chuva com consequente dissolução do sal, os montes eram inicialmente cobertos com junça ou bajunça (gramínea abundante na região) e terra arrelvada. A era do plástico revolucionou a cobertura. A forma contudo mais eficaz de armazenar o sal é no interior dos palheiros, construções de madeira como as da imagem.
Os palheiros expostos localizam-se no “Cais de S. Roque”, durante muito tempo o centro do comércio do sal em Aveiro. De planta rectangular e empena sobre a rua, os palheiros do Cais de S. Roque possuem telhados de duas águas. O tabuado, pintado a vermelhão, vê-se disposto na horizontal.
Vindos das salinas, em miúdo perdia horas a apreciar a azáfama dos barcos salineiros a atracar e a partir. Como formigas num carreiro, dos barcos e em direcção aos palheiros, o sal era transportado em canastras à cabeça dos estivadores descalços.
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+ Enquanto alguns palheiros definham, outros, como o da imagem agora exposta, são convertidos em locais de restauração e convívio. Algumas das novas construções do cais, não sei se por imposição camarária ou por vontade dos donos, são reinterpretações desta forma de construir. O «Conjunto de Armazéns do Sal do Canal de São Roque» encontra-se em "Vias de Classificação" pelo IPPAR. A Universidade de Aveiro realizou um congresso dedicado ao sal, com vista à elevação do salgado a património. Procura também estudar a viabilidade da recuperação de toda a estrutura constituinte da indústria do salgado da Ria de Aveiro, de que os palheiros fazem parte.
Rafael Carvalho / Jan2010

2 comentários:

Armando Ferreira disse...

Esperemos que a classificação ainda venha a tempo de salvar o que resta destas construções. Quanto ao sal de Aveiro, só com vontade política e os apoios necessários é que será possível valorizar todo um património que faz parte da identidade desta bela cidade.
Abraço.

Rafael Carvalho disse...

Armando,
efectivamente os tempos são outros...
Quanto aos edifícios, sempre se lhes pode dar novas funcionalidades...
... quanto ao sal, parece que somente com subsídio para turista ver...
Cumprimentos.