sábado, 27 de novembro de 2010

SALVEM OS PALHEIROS DA COSTA DA CAPARICA -Petição

Foto obtida aqui
+ O CostaPolis ameaçou demolir as últimas casas típicas da Costa da Caparica, em frente à Praia da Saúde e até à Praia da Mata. Todas as outras foram já destruídas. Há cerca de 100 anos, toda a Costa era constituída por este tipo de casas. É evidente que as autoridades não se aperceberam que estas edificações não são barracas de uma qualquer periferia urbana, mas sim valiosos exemplares das construções dos pescadores, os Palheiros, que se podem encontrar ainda em certos sítios da costa atlântica portuguesa e em alguns pontos das margens do Tejo e do Sado. Em muitos casos, como na Costa Nova, a sua tipologia foi adaptada à construção moderna, como as famosas casas “de pijama”. O caso específico destas casas da Costa da Caparica é ainda mais interessante, uma vez que várias delas foram trazidas sobre troncos pela praia, puxadas por juntas de bois, desde a Cova do Vapor, havendo mesmo relatos de alguns Palheiros serem transportados do Dafundo em barcaças. Há diversos estudos sobre os Palheiros, como o da Profª Doutora Raquel Soeiro de Brito, que em 1958 publicou o seu famoso estudo sobre os Palheiros de Mira. A autora considera hoje – na sua qualidade de vice-presidente da Academia de Marinha – que se os decisores tivessem tido o bom senso e a visão estratégica e cultural necessárias, poderíamos hoje estar a falar desses mesmos Palheiros de Mira como um património da Unesco. O que se verifica, pelo contrário, é que na Praia de Mira, só para dar este exemplo paradigmático, dos mais de trezentos palheiros históricos ali existentes há somente 50 anos atrás, existem hoje pouco mais de três! Sendo construções históricas, a tipologia dos palheiros encontra-se muito bem estudada e identificada por investigadores clássicos como José Leite de Vasconcelos, Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano, Benjamim Pereira, entre vários outros. O próprio Raul Brandão, que viveu parte da sua vida na Praia de Mira, refere-se detalhadamente aos Palheiros. Este património que agora se quer destruir na Costa da Caparica tem sido cenário de inúmeras sessões de fotografia de moda, cenário de telenovelas (Mar de Paixão, TVI), postais ilustrados, artigos de revista, inclusivamente na da TAP como destino turístico original. É simplesmente inacreditável que não se compreenda que o património é uma mais valia para o turismo e para o desenvolvimento, não uma ameaça. Os proprietários das casas não estão a pedir subsídios do estado, eles querem fazer a sua manutenção e preservar o património. Há muitos anos que as autoridades não lhes permitem fazer obras de manutenção porque “é tudo para ir abaixo”. Os proprietários não são ilegais. Têm toda a documentação que legitima a sua presença. Mais, os proprietários propõem-se, além da recuperação e manutenção das casas, contribuir para a sua qualificação cultural, e deste modo para a qualificação da oferta turística da Costa da Caparica. Começaram já, com o apoio da Comissão da Candidatura da Cultura Avieira a Património Nacional, a trabalhar nesse sentido. Foi igualmente contactada a Associação de Moradores da Cova do Vapor para também trabalhar no mesmo sentido. A sua situação, sendo substancialmente diferente, partilha no entanto os efeitos destruidores da incompreensão do valor do património cultural dos pescadores. A Costa da Caparica tem perdido todas as suas referências identitárias, seguindo uma concepção de desenvolvimento cujo destino conhecemos todos muito bem: temo-lo visto em inúmeras zonas do nosso litoral e ninguém fica feliz com ele. A alma da Costa da Caparica são os pescadores e a sua cultura, sem ela resta o subúrbio à beira mar. Todos temos a ganhar na preservação do património, ele é um factor de riqueza. A cultura dos pescadores, os pobres entre os pobres, como dizia Raul Brandão, tem sido sistematicamente negligenciada, até pela pobreza dos materiais empregues, os únicos possíveis dadas as circunstâncias. No entanto, são manifestações culturais de uma comunidade centenária, riquíssima de tradições e uma voz de coragem no sofrimento, de preserverança e solidariedade na aflição. Os actuais proprietários já não são pescadores, são os guardiães dessa herança e têm as suas memórias, na sua maioria ao longo de três gerações, intimamente ligadas estas casas. Para quem conhece a Costa da Caparica há muitos anos, também são parte da nossa memória. Neste momento temos, por um lado, a destruição pura e simples e, por outro, esta proposta de qualificação, de reforço da identidade, de um futuro mais humanizado. Assinar esta petição é mais do que salvar cerca de 40 casas, é dar uma oportunidade de qualificar a Costa da Caparica e fazer uma ponte com o seu passado, reforçando a sua identidade. Assinar esta petição é recusar a destruição da memória e dar oportunidade a um futuro em que os sítios, as coisas e as pessoas fazem sentido.
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Para assinar a petição, clique aqui.

2 comentários:

J.G. disse...

Já assinei a subscrição.
Não deixa de chocar ver a que ponto levaram a ocupação pelo betão da Costa da Caparica. Ainda a conheci como uma pequena povoação, com casas de um só piso, rodeadas de jardins. E a praia era enorme, caminhava-se bastante pelo areal até chegar à beira-mar.
Infelizmente há erros que não têm remédio. E os responsáveis passam incólumes...
Pode ser que ainda se consigam salvar os últimos palheiros da Costa.
Cumprimentos

Rafael Carvalho disse...

Júlia,
confesso que dos palheiros da Costa só conheço a história, bem como algumas das suas imagens.
Tenho uma ligação afectiva muito forte aos palheiros do Litoral Central Português, de onde deriva a corrente migratória que deu origem às aldeias Avieiras do Tejo, bem como como aos palheiros ca Caparica.
Cumprimentos.