sábado, 5 de janeiro de 2008

Técnicas de construção no alto Douro – O Tabique


O Tabique na arquitectura de Terra

O tabique enquadra-se no âmbito da “Arquitectura em Terra”, leia-se terra crua, diversa e de características universais. Efectivamente a terra crua como material construtivo pode ser escavada, empilhada, modelada, prensada, apiloada, recortada, extrudida, pode servir de enchimento como no caso do tabique, de cobertura, de recobrimento, entre outros. Excepção feita para a Antártida, a arquitectura de terra é praticada há milénios por diversas culturas em todos os continentes, daí a sua universalidade. Actualmente cerca de 1/3 da população mundial vive em estruturas construídas em terra.

Em Portugal, as principais técnicas tradicionais de construção que recorrem à terra são:
· a “taipa”, principalmente no sul;
· o “adobe”, junto aos estuários do Tejo e do Sado e no litoral centro;
· o tabique, distribuído nalgumas localidades do centro e norte;
· a terra de cobertura, em construções circulares no Alentejo e as coberturas de salão do Porto Santo (Madeira).

A terra é um material natural, reciclável, inesgotável, ecológico e sustentável. Possui excelentes propriedades acústicas na absorção do som. A sua massa térmica permite no Inverno conservar o calor e no Verão manter o ar fresco. Retém o excesso de humidade das habitações.

Tabique – o método
O tabique, também designado de “taipa de fasquio”, “taipa de rodízio”, “taipa de sopapo”, “taipa de chapada”, “pau a pique”, “terra sobre engradado” ou “barro armado” é um método construtivo comum em grande parte do vale do Douro, onde subsiste nalgumas construções centenárias. Distribuída por diversos locais do mundo, esta técnica consiste numa estrutura portante de madeira interligada por trama de madeira, formado por um engradado preenchido por terra argilosa, podendo conter fibras vegetais.

São Cosmado, Armamar

O engradado é limitado pelos pilares principais e pelas vigas do tecto e do piso em madeira.
As paredes de tabique desempenham funções estruturais importantes. Devido à sua organização, estas paredes têm um importante papel no travamento geral das estruturas, mediante a interligação entre paredes, pavimentos e coberturas, decisiva para a capacidade resistente global do edifício durante a ocorrência de um sismo, dissipando a sua energia. As construções em tabique foram as que melhor resistiram ao terramoto de 1755.

Tabique - distribuição em Portugal

Tabique – relação com o Douro
Sobre o pavimento térreo normalmente em pedra, o tabique constitui no Alto-Douro o último andar de muitas habitações. Apresenta-se rebocado ou, para maior protecção, revestido no exterior por telhas cerâmicas, placas de lousa ou chapas de zinco. Forma muitas vezes acréscimos e trapeiras. O tabique é também usado na região para construção das paredes interiores, apresentando-se nesse caso rebocado com argamassa à base de cal.

No Douro, curioso é o facto das estruturas de madeira que suportam o tabique nem sempre se apresentarem perfeitas à vista, dada a necessidade de muitas vezes utilizar madeira fora de esquadria, logo de pior qualidade (Salzedas-Tarouca, Santiago-Armamar, …).

Salzedas/Tarouca

O tabique, verdadeiro ícone do património arquitectónico alto-duriense, adapta-se ao clima, ao terreno, à paisagem, à cultura e valoriza a identidade local.
A preservação do tabique é um contributo fundamental para a preservação da diversidade e singularidade regional, patente em locais como: Bairro da Ponte – Lamego; Salzedas e Ucanha – Tarouca; Bairro dos Ferreiros - Vila Real; São Cosmado, Goujoim e Ribeira de Goujoim – Armamar; Granja do Tedo – Tabuaço.

Tabique - Inventariar, caracterizar e preservar, precisa-se!

Rafael Carvalho / Jan2008

(Clique para saber mais sobre Arquitectura de Terra)
(Clique para enquadrar o tabique na Arquitectura Vernácula Alto-Duriense)

Bibliografia e sites consultados
· Arquitectura de Terra em Portugal, Argumentum, 2005
· http://www.aldeia.org/portal/user/documentos/MCorreia.pdf
· http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/jaguiar/MariaFernandesTERRA1.pdf
· http://www.paulojones.com/tecnicas/tabique.php

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