segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

Imagem obtida em http://www.meiacana.org + Palheiros da Tocha - Região da Beira Litoral
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"Um povo conquista um território e constrói. Constrói com o que tem e como sabe. A arquitectura popular é a expressão primária de um povo. Sem saber ler nem escrever, os artífices das casas populares portuguesas são os primeiros obreiros da nossa cultura. O projecto "meia-cana" pretende reproduzir em pequenas miniaturas tridimensionais à escala 1/100 e também em fachadas, algumas construções de importância significativa desta arquitectura. Este projecto esta dividido em 4 secções: . A primeira ocupa-se da habitação. Escolhidas de forma regional, histórica e cultural as casas representadas explana a evolução do povo português. . A segunda selecciona a arquitectura da produção. Todo o tipo de construção feito para auxiliar a subsistência dos nossos antepassados, tais como engenhos de moagem (atafona, moinhos de água e de vento), fornos colectivos, eiras, espigueiros, etc. . Na terceira vamos nos ocupar com o espírito e a instrução. É a arquitectura do social - pequenas capelas e ermidas relacionadas com algum milagre, escolas, praças e pelourinhos. . A quarta e última secção será a arquitectura popular portuguesa espalhada pelo Mundo (América, Ásia, Africa) A compilação de todas estas pequenas colecções forma a grande colecção da ARQUITECTURA POPULAR PORTUGUESA."
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Eis as palavras de apresentação do projecto meia-cana (http://www.meiacana.org/). Abro aqui uma série de posts dedicados à divulgação dos exemplares da arquitectura popular produzidas por este projecto.
Rafael Carvalho / Set2010
Consulte também: Palheiros da Tocha (1 de 5); Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação; Palheiros da Tocha (3 de 5) – Breve caracterização; Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?; Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes .

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes

Palheiro Tinoco
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Para além dos palheiros que hoje aqui retrato, na Praia da Tocha existem felizmente mais alguns espécimes. Certamente não faltará oportunidade para no futuro os fazer subir ao palco da blogosfera.
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Palheiro do Dr. Chico
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Uma janela no Palheiro de Manuel Azenha
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Janelas no Palheiro do Largo de São João + Palheiro na frente marginal
+ Palheiro do Posto de Turismo
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Palheiro da Associação de Moradores da Praia da Tocha
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Consulte também: Palheiros da Tocha (1 de 5); Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação; Palheiros da Tocha (3 de 5) – Breve caracterização; Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?; Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?

1987 - Selo dos CTT comemorativo dos «75 anos do Turismo»…
Postal máximo obtido aqui
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A imagem do palheiro durante muito tempo foi sinónima de miséria. O palheiro conviveu com a desorganização urbanística, associada à ausência de saneamento, electricidade e água. Foi durante muito tempo um alvo a abater. Contraditoriamente, o mesmo povo que condena o Palheiro à extinção continua a querer imortalizá-lo. Decrépito e em pré-extinção a imagem do Palheiro continua “a vender” nos folhetos turísticos, nos cartazes de promoção de eventos, nos artigos de artesanato estampado em pratos ou vendidos como miniatura. Jovens associações incluem-no nos seus logótipos (AMPT - Associação de Moradores da Praia da Tocha; Associação de Bodybord da Praia da Tocha). Quando o calor do verão aperta, revistas e jornais dedicam-lhe páginas inteiras. Os Palheiros da Tocha serviram de cenário ao filme de Fernando Lopes “Uma abelha na chuva” (1971). Em 2009 a banda Blind Zero escolheu os palheiros da Tocha como pano de fundo para o teledisco “Slow Time Love”.
Logótipo da Associação de Moradores da Praia da Tocha
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Em 1987 o Palheiro da Tocha serviu de rosto no selo dos CTT comemorativo dos «75 anos do Turismo»… Os mesmos CTT em 1985 retrataram o Palheiro da Tocha numa série alusiva à Arquitectura Popular Portuguesa. O Palheiro constitui o motivo principal do brasão da freguesia da Tocha.
1985 - Palheiro da Tocha numa série de selos alusiva à Arquitectura Popular Portuguesa. Palheiro da Tocha, motivo principal do brasão da freguesia da Tocha.
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Na povoação são vários os exemplos de casas de tijolo revestidas a madeira, umas bem conseguidas, outras nem por isso. Há contudo quem rume contra a maré. De construção relativamente recente, os palheiros do Posto de Turismo e da “Associação de Moradores da Praia da Tocha” são disso um exemplo. As novas construções sobre a frente marinha – biblioteca, abrigo dos pescadores e bares anexos - amputadas de telhado são todavia palafitas de madeira, uma alusão aos antigos palheiros. Cortaram contudo de forma radical com a tradição. Pelo grande afastamento relativamente aos palheiros tradicionais foram uma oportunidade perdida. Numa altura em que a palavra sustentabilidade está na ordem do dia, o facto de sabermos que nos primórdios da Praia da Tocha foram exclusivamente usados na construção materiais renováveis locais de baixo impacto ambiental, dá-nos que pensar!... É absolutamente errado supor anacrónico o uso da madeira nos dias de hoje. Os países da Europa e da América do Norte, com climas mais agrestes do que o nosso, reconhecidos como estando no topo do desenvolvimento humano, continuam e hão-de continuar a construir em madeira. Face ao exposto não me parece descabida a ideia de criar, na Praia da Tocha, uma zona de edificação exclusiva para verdadeiros palheiros, composta por 15 a 20 habitações, o suficiente para assegurar o seu futuro. Localizados na linha da frente, interessados certamente não faltariam.
Rafael Carvalho / Set2010
Consulte também: Palheiros da Tocha (1 de 5); Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação; Palheiros da Tocha (3 de 5) – Breve caracterização; Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes; Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

sábado, 18 de setembro de 2010

Palheiros da Tocha (3 de 5) – breve caracterização

+ Construídos em madeira e de aspecto palafítico, os palheiros da Tocha foram-se erguendo sobre estacas, inicialmente de madeira, depois em pedra, bloco ou cimento, evitando assim a acumulação de areia transportada pelo vento. Constituindo residência temporária apenas durante os meses de faina (Abril a Outubro), os Palheiros da Tocha eram de pequena dimensão, ao contrário por exemplo dos palheiros de Mira que chegavam a ter três andares. Bastante rudimentares, serviam ainda de arrumos às alfaias piscatórias, bem como de armazéns de salga. A sua pequena dimensão permitia que, se necessário, acrescentando-se outros pilares facilmente se elevassem, podendo mesmo ser mudados de local. A leveza da madeira permitia que as construções se erguessem num solo arenoso, de pouca estabilidade. A facilidade em obter madeira e o seu baixo custo como material de construção, relacionado com a proximidade da floresta, levou à sua generalização. Para o recurso à madeira como material construtivo existem também razões culturais, prolongamento de tradições anteriores: a pedra e o adobe, estáveis e sólidos para o lavrador; extensão do barco, a madeira para o pescador. Habituado a uma vida volante o pescador aceita sem estranhar uma construção muitas vezes improvisada. De planta rectangular, eram cobertos por telhados de duas águas, primeiro de colmo ou em tabuado, depois de telha de barro cozido. Mais tardiamente alguns palheiros passaram a usar telhas de lusalite. Relativamente às telhas de barro, à telha caleira de fabrico artesanal sucederam a telha “marselha” e posteriormente a “lusa” de fabrico industrial. Quanto ao método construtivo, duas hipóteses se afiguravam. O tabuado das paredes ora era aplicado na vertical, ora era aplicado na horizontal, sobreposto. No primeiro dos casos as juntas eram colmatadas por ripas, pintadas por vezes de cor diferente.
À esquerda - Tabuado aplicado na vertical, com as juntas colmatadas por ripas. À direita - Tabuado sobreposto aplicado na horizontal
+ Os palheiros eram tradicionalmente pintados com óleo queimado, bastante eficiente enquanto protector da madeira. Vestidos de negro, os palheiros faziam companhia às gandaresas que tal como elas aguardavam pelo regresso dos pescadores, com receio que eles levassem sumiço no mar revolto. “Vestidos de negro, os palheiros faziam companhia às gandarezas que tal como elas aguardavam pelo regresso dos pescadores com receio que levassem sumiço no mar revolto.” Foto (anos 70 do séc. XX) extraída do livro “Praia da Tocha / Palheiros da Tocha” de Alice Andrade. Associação de Moradores da Praia da Tocha 2001
+ A cor negra do óleo queimado sempre distinguiu os palheiros da Tocha dos seus congéneres de Mira ou da Costa Nova. No palheiro, a habitação propriamente dita, soalhada, situava-se ao nível do primeiro andar, à qual se acedia por uma escada ou rampa exterior. A cozinha acumulava ainda as funções de sala comum, servindo ainda simultaneamente de entrada. Para a cozinha abriam-se as alcovas, quartos de pequena dimensão. Nas alcovas a tarimba, na cozinha o borralho, uma caixa de areia ou de barro encostada à parede, com telhas a proteger a madeira, onde se acendia o lume para cozinhar. A latrina, quando existente, situava-se normalmente entre a estacaria ao nível do R/C. Também entre a estacaria eram armazenados os apetrechos da faina piscatória. O litoral na região gandareza era outrora bastante desprotegido, pelo que as dunas eram varridas por ventos vindos do mar, arrastando para o interior massas consideráveis de areia por vezes por diversos quilómetros. Este efeito foi contrariado à custa da plantação de pinheiros bravos e arbustos que fixaram as areias. Originalmente assentes sobre estacaria de madeira, os palheiros evoluíram. Em fases posteriores à consolidação das areias, surgiram modelos fechados ao nível do R/C. O R/C fechado passou a servir de arrumos ou mais recentemente de garagem. Aos pescadores foram-se adicionando os veraneantes que, avessos à madeira, foram edificando as suas casas em alvenaria. Assim teve início a destruição de um modo de viver e construir, facilitado pelo fabrico local de blocos de cimento e areia e pela abertura de vias de comunicação que facilitou a entrada de outros materiais de construção, mais baratos do que a madeira. O próprio poder público contribuiu para a agonia dos Palheiros. A Sul, nalgumas povoações das proximidades do pinhal de Leiria, a construção de casas de madeira ou mesmo a reparação das existentes, foi em tempos proibida. O mesmo aconteceu a Norte na Praia de Mira.
Rafael Carvalho / Set2010
Consulte também: Palheiros da Tocha (1 de 5); Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação; Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?; Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes ; Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação

Anos 50 do séc. XX
+ Localizada na região centro entre as Praias de Mira e Quiaios, eis a Praia da Tocha. Mais conhecida outrora por “Palheiros da Tocha”, este topónimo teve a sua origem no facto da povoação ser inicialmente composta por construções cobertas de estorno (Ammophila arenaria), gramínea bastante abundante nas dunas. A origem da povoação surge intimamente ligada à arte xávega, espécie de pesca de arrasto em que as redes são puxadas a partir de terra à força de braços, juntas de bois ou mais modernamente com o auxílio de tractores. “Ciganos da areia”, os primeiros povoadores, verdadeiros colonos, foram pescadores oriundos mais do Norte (Ovar, Murtosa e Ílhavo) que na procura de novos centros pesqueiros aqui terão assentado arraiais no final do século XVIII, início do século XIX, trazendo consigo a tradição da construir em madeira. A história deste e de muitos outros povoados litorais confunde-se com a história destes movimentos migratórios: Espinho, Furadouro, Torreira, São Jacinto, Costa Nova, Vagueira/Areão, Palheiros de Mira, Palheiros da Tocha, Cova, Lavos, Leirosa, Pedrogão, Vieira de Leiria, Costa da Caparica, Santo André… O Povoado inicial não passaria de uma pequena aldeia no topo de uma duna, onde por tortuosas e estreitas vielas se distribuíam os toscos palheiros dos pescadores.
Rafael Carvalho / Set2010
Consulte também: Palheiros da Tocha (1 de 5); Palheiros da Tocha (3 de 5) – Breve caracterização; Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?; Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes ; Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

domingo, 12 de setembro de 2010

Palheiros da Tocha (1 de 5)

Foto extraída do livro “Praia da Tocha / Palheiros da Tocha” de Alice Andrade.
Associação de Moradores da Praia da Tocha 2001
+ O presente post dá início a uma série dedicada aos Palheiros da Tocha. É por aqui que pretendo andar nos próximos dias.
+ Como vive esta gente? Vive com simplicidade nos Palheiros, casa ideal para pescadores… É construída sobre espeques na areia, com tábuas de pinho e um forro por dentro aplainado (…) cheiram que consolam, quando novas, a resina, a árvore descascada e a monte; ressoam como um velho búzio e são leves, agasalhadas, transparentes (…) por dentro conservam uma frescura extraordinária, e quando se abre uma janela, abre-se para o infinito…
Raul Brandão “Os Pescadores”
+ A pesca foi, durante muito tempo, a única razão de ser desta povoação, que a larguíssima duna sem quaisquer vias de comunicação isolava completamente das terras cultivadas do interior (…). E este facto não só conferiu à xávega da Tocha alguns aspectos particulares, como também tornou desnecessárias as abegoarias, os armazéns de vulto e outras instalações acessórias.
Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano “Palheiros do Litoral Central Português”

Consulte também:

Palheiros da Tocha (2 de 5) - Origem da Povoação;

Palheiros da Tocha (3 de 5) – Breve caracterização;

Palheiros da Tocha (4 de 5) – Que Futuro?;

Palheiros da Tocha (5 de 5) – Os resistentes ;

Projecto Meia-Cana / Palheiros da Tocha

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Roupa estendida...

Foto: Leomil, Mta. da Beira +
Se há roupa estendida, há vida, há gente!... (…) Como diz Villaret, a roupa na janela é um retrato dos seus proprietários. Se por acaso vemos uma camisola de futebol, percebemos que o filho mais velho vai jogar futebol (…). Se vemos um alinhamento de peúgas esburacadas, descobrimos que não existe uma avó que se dedique à nobre tarefa de passajar a roupa. Se surgem camisas de dormir com formas voluptuosas, damo-nos conta da turbulência libidinal que vai por aquela casa. Se vemos um xaile preto, cheira-nos a fado. Se vemos umas calças de ganga cheias de tinta branca, compreendemos que o pai trabalha na construção civil. Se vemos uma farda reluzente, ficamos a saber que há guarda republicano nas imediações. Se existe uma farda de bombeiro, sentimos o odor a fogo na floresta. Se vemos um conjunto de meiinhas cor-de-rosa, avançamos com a hipótese de o bebé ser menina. (…)
(…) E deste modo ficas a conhecer a vida quotidiana daquela família, os membros que a compõem, a sogra que vem passar duas semanas (…).
Eduardo Prado Coelho / in Nacional e Transmissível Rafael Carvalho / Jan2009

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aldraba por terras de Mira

Na casa Gandaresa, o portão de acesso ao pátio é normalmente trancado com uma aldraba.
Rafael Carvalho / Ago2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Casa Gandaresa na região de Mira (III)

Foto: Seixo de Mira - Mira + A arquitectura vernácula transformou-se num produto turístico. Porém, a arquitectura de cariz vernáculo está em extinção e a casa gandaresa na região de Mira não é excepção. Existem contudo alguns resistentes. Datado de 1999, o espécime exposto tem pouco mais de dez anos.
Rafael Carvalho / Ago2010